Autoestima feminina: por que a gente se cobra tanto para ser perfeita?
Postado 23 de junho de 2025 em Comportamento por Ana Beatriz Cardo

Você já parou para pensar em quantas vezes, só no último mês, se sentiu cobrada — mesmo que em silêncio — para ser mais? Mais bonita, produtiva, bem-humorada, magra, paciente. Mais, mais, mais. A verdade é que, quando o assunto é autoestima, a gente vive em um campo minado.

E, muitas vezes, sem perceber, somos nós mesmas quem armamos essas minas. Afinal, de onde vem essa ideia de perfeição? Por que a gente sente que, se não estiver sempre impecável, não está “à altura”? Será que existe um caminho mais leve (e mais real) de se olhar?
É sobre isso que vamos conversar por aqui: o dilema da autoestima feminina, a busca incessante por validação e o convite para olhar para dentro com mais gentileza. Porque sim, está tudo bem querer evoluir. Mas, não dá para viver em uma eterna cobrança, certo?
De onde vem a cobrança tão constante sobre a autoestima feminina?
Antes de qualquer coisa, é importante entender que a nossa autoestima não nasce do nada. Afinal, ela é construída — e influenciada — por tudo ao nosso redor: família, escola, amigos, redes sociais, publicidade… Então, tudo isso vai plantando sementinhas no nosso jeito de nos enxergar.
Assim, desde pequenas, muitas meninas aprendem que precisam agradar. Que precisam ser “boazinhas”, discretas, educadas, bonitas, arrumadas. O tempo passa e essas exigências só mudam de forma: seja sendo uma excelente aluna, profissional exemplar, mãe perfeita ou a mulher que dá conta de tudo com um sorriso no rosto.
Dessa forma, a autoestima feminina costuma se desenvolver nesse cenário de expectativas irreais. E quanto mais a gente tenta corresponder, mais distante parece estar essa tal perfeição. Ou seja, o jogo é feito para a gente perder.
Qual o papel das redes sociais na construção (ou destruição) da autoestima?
Hoje, as redes sociais viraram vitrines de vidas editadas. Por exemplo, fotos impecáveis, rotinas produtivas, relacionamentos perfeitos, corpinhos esculpidos, cabelos sem frizz. É claro que, no fundo, a gente sabe que existe filtro, luz boa, pose ensaiada. Porém, o nosso emocional nem sempre separa o real do idealizado.
Então, sem perceber, você compara os bastidores da sua vida com o “melhor momento” da outra. E é aí que a autoestima balança. Afinal, parece que todo mundo está vivendo uma versão melhor de si mesmo — menos você.
Além disso, o algoritmo favorece justamente esse tipo de conteúdo: o mais “instagramável”. Assim, isso cria uma falsa sensação de que todo mundo está performando uma perfeição constante. E quem não acompanha esse ritmo, sente que está ficando para trás.
Por que a autoestima está ligada à comparação com outras mulheres?
Infelizmente é muito comum conectarmos a autoestima feminina com comparações — e bem mais do que a gente gostaria de admitir. Afinal, por mais que o discurso de sororidade esteja mais forte, ainda vivemos em um sistema que nos ensina, desde cedo, a competir entre nós.
É a amiga que “voltou do treino com a barriga trincada”, a influencer que “acabou de ter filho e já tá com o corpo em dia”, a colega que “deu conta de tudo sozinha”. Assim, a cada comparação, um pedacinho da autoestima vai sendo corroído.
Por isso, é tão importante ressignificar esses olhares. A autoestima verdadeira não nasce do espelho — nasce do acolhimento. Então, é quando você entende que o brilho da outra não apaga o seu. E que cada mulher tem uma jornada única, com desafios e conquistas que não cabem em legenda de Instagram.
Como a autocobrança impacta a saúde mental das mulheres?
Quando a gente se cobra demais, o corpo sente. A mente, então, nem se fala. A autocobrança constante gera ansiedade, baixa autoestima, insônia, crises de comparação, sensação de inadequação… e, muitas vezes, leva até a exaustão emocional.
Portanto, é como se você estivesse sempre correndo atrás de um ideal inalcançável. E isso cansa – muito. Afinal, não importa o quanto você faça: parece que nunca é o suficiente.
Dessa forma, a busca por autoestima vira uma prisão disfarçada de autoconhecimento. E é justamente por isso que precisamos falar (e muito) sobre limites saudáveis, sobre não romantizar a produtividade a qualquer custo, e sobre abraçar nossas imperfeições como parte da jornada.
Qual é o caminho mais leve para fortalecer a autoestima?
O caminho começa com um passo simples, mas poderoso: parar de se tratar como inimiga.
A autoestima cresce quando você se olha com compaixão. Quando entende que errar é humano, que o corpo muda (e tudo bem), que nem todo dia será produtivo, e que a comparação não leva a lugar nenhum.
Por isso, ao invés de se perguntar “por que eu não consigo ser como fulana?”, tente trocar por: “o que eu já conquistei que me orgulha?”, “quais são as minhas forças?”, “o que me faz única?”. Dessa forma, essas perguntas mudam o foco do olhar. E, aos poucos, ajudam a construir uma autoestima baseada em verdade — não em pressão.
Quais atitudes práticas ajudam a desenvolver autoestima no dia a dia?
Em primeiro lugar, a autoestima não nasce de um dia para o outro. No entanto, ela pode (e deve) ser cultivada com pequenas ações todos os dias. Então, veja algumas ideias para te inspirar:
- Fale com você mesma com carinho: Observe o tom dos seus pensamentos. Se você não diria aquilo para uma amiga, por que diz para você mesma?
- Reduza o tempo de tela: Especialmente nas redes sociais. Menos comparação, mais presença.
- Escolha com quem se cerca: Gente que te coloca para cima é essencial na construção da sua autoestima.
- Celebre pequenas vitórias: Desde se levantar da cama em um dia difícil até cumprir uma meta pessoal. Pode acreditar, tudo conta.
- Crie rituais de autocuidado que façam sentido para você: Pode ser skincare, um banho premium mais demorado, um chá antes de dormir. É sobre se tratar bem — não seguir uma regra.
- Diga “não” sem culpa: Sua energia é valiosa. Então, saber impor limites também é autoestima.
O que a gente precisa lembrar quando a autoestima oscila?
Para começar, ninguém é 100% segura o tempo todo. Afinal, até a pessoa que você mais admira tem as suas inseguranças. Portanto, a diferença está em como lidar com elas.
Então, quando a autoestima balançar (porque vai acontecer), tente lembrar que isso é parte da vida e que você não precisa ser perfeita para ser amada. Nem precisa ter tudo sob controle para ser incrível.
Agora, mais do que nunca, a gente precisa praticar o auto acolhimento. Trocar o “preciso ser melhor” por “vou me tratar melhor”. Porque autoestima não é sobre perfeição — é sobre pertencimento. É sobre se sentir inteira, mesmo nos dias em que tudo parece um pouco bagunçado.
Por fim, um lembrete que vale ouro:
A sua autoestima não depende do que os outros enxergam em você, mas do que você decide enxergar em si mesma. Então, que tal começar hoje a olhar com mais carinho, respeito e gentileza para essa mulher incrível que você já é?
Foto de Capa: Erinada Valpurgieva na Unsplash/Reprodução.