62. #PapoÍntimo com José Carlos Semenzato
Postado 24 de novembro de 2025 em Papo Íntimo por Ana Beatriz Cardo

No episódio 62 do Papo Íntimo, Sandra Chayo recebeu o convidado José Carlos Semenzato, um dos maiores nomes do franchising no Brasil. Logo de cara, fica claro que a trajetória dele está longe de ser “sorte” ou acaso: é uma combinação de humildade, trabalho pesado, visão de oportunidade e, principalmente, um olhar muito humano para os negócios.
Quem é José Carlos Semenzato e como ele iniciou a sua carreira?
Antes de se tornar referência nacional, José Carlos Semenzato era um menino do interior de São Paulo, filho de pedreiro e dona de casa, que começou a trabalhar aos 13 anos. Ele vendia coxinhas feitas pela mãe para complementar a renda da família e, já ali, dava sinais claros de mentalidade empreendedora.
Ele percebeu rápido que as pessoas sentiam fome em horários específicos, como no meio da tarde, e organizou uma mini “operação de vendas”: contratou outros garotos para vender as coxinhas em diferentes bairros e prédios que estavam crescendo na época. Assim, ainda adolescente, José aprendeu na prática a observar o comportamento das pessoas, identificar demandas e montar uma estrutura para atender tudo isso.
Ao mesmo tempo, ele sempre foi aquele aluno “CDF”, o primeiro da fila, focado, com notas altas e muita dedicação aos estudos. Dessa forma, essa combinação de disciplina com vontade de trabalhar foi a base de tudo que viria depois.
Como a trajetória de Semenzato mudou com a tecnologia?
Em primeiro lugar, um ponto chave da história foi quando José Carlos Semenzato decidiu fazer um curso de programação de computadores em uma escola pública. Era a época em que a microinformática estava começando a chegar ao Brasil, e ninguém imaginava o impacto que isso teria no mundo — muito menos um adolescente do interior.
Mesmo assim, ele foi, fez o curso de final de semana e aprendeu a programar. Então, passou a desenvolver pequenos sistemas de contabilidade, folha de pagamento, controle de estoque e outros programas para empresas locais. Enquanto aprendia a programar, também começou a entender, por dentro, como uma empresa funciona: quais eram as dores, os processos, as necessidades de cada área.
Além disso, ele trabalhou em uma copiadora, e é dessa fase que nasce uma das frases que ele mais repete: a ideia de “fazer a cópia melhor do que o original”. Na prática, isso significa entregar mais do que é pedido, com mais capricho, mais cuidado e mais qualidade. Tanto que, na copiadora, os clientes faziam questão de ser atendidos por ele, mesmo existindo outros funcionários. Essa postura o aproximou de um cliente muito especial, Valmir, que se tornaria o seu grande mentor na vida profissional.
Como José Carlos Semenzato saiu da sala de aula para abrir a Microlins?
Depois de se tornar programador e analista de sistemas, José Carlos Semenzato deu mais um passo importante: virou professor de escola técnica ainda muito jovem, por volta dos 18 ou 19 anos. Ele dava aulas à noite, trabalhava durante o dia e, aos poucos, foi percebendo algo muito claro: existia um abismo entre o que os jovens aprendiam e o que o mercado realmente precisava.
Sendo assim, ele começou a amadurecer a ideia de criar a própria empresa. Já casado, com pouco mais de 20 anos, tomou uma decisão que mudaria tudo: pediu demissão do emprego, deixou as aulas e fundou a Microlins, em 1991.
No começo, a empresa era apenas uma escola de informática. Porém, Semenzato entendeu rapidamente que não bastava ensinar Word, Excel e Windows. Então, ele transformou a Microlins em uma grande escola profissionalizante, com cerca de 40 cursos diferentes: de assistente administrativo a áreas ligadas a óleo e gás, passando por vagas alinhadas às necessidades específicas de cada região do Brasil.

Como José Carlos Semenzato transformou uma quase falência em “MBA da vida real”?
Porém, a história de José Carlos Semenzato não é uma linha reta de sucesso. Em 1994, ele vivia um momento de expansão acelerada, com 17 unidades próprias da Microlins e cerca de 17 mil alunos. Tudo parecia promissor, mas havia um problema: o negócio estava altamente alavancado, com muitos contratos de leasing de computadores atrelados ao dólar e dívidas de capital de giro.
Além disso, com o Plano Real e as mudanças econômicas, o câmbio disparou e as parcelas ficaram impagáveis. Ele relata que, na prática, quebrou. Não tinha dinheiro para salários, nem para os bancos e tudo isso foi um choque.
Nesse momento crítico, o mentor Valmir reaparece com uma sugestão que mudaria completamente o rumo da história: transformar as escolas em franquias. José nem sabia direito o que era franchising, mas decidiu tentar.
Em poucos meses, com contrato de franquia pronto, ele saiu em busca de pessoas que quisessem assumir as unidades. Aproveitou programas de demissão voluntária de grandes empresas e atraiu ex-gerentes e executivos que decidiram investir nas escolas. Transferiu 16 unidades para novos franqueados, praticamente “dando” o negócio em troca de novos investimentos em estrutura e do pagamento de royalties.
Assim, ele se livrou da alavancagem, manteve a operação viva e descobriu o modelo que se tornaria a sua grande especialidade: franquias. Ele mesmo chama essa fase de “o melhor MBA” da sua vida, porque aprendeu, na prática, a importância de entender riscos financeiros, cenários econômicos e estratégias de sobrevivência.
Como José Carlos Semenzato construiu um império de franquias a partir da Microlins?
Depois dessa virada, a trajetória de José Carlos Semenzato decolou de vez. A Microlins cresce como rede franqueadora, chega a centenas de unidades e se torna uma das maiores redes de ensino profissionalizante do Brasil.
Em 2010, ele vendeu a empresa com cerca de 750 escolas e 500 mil alunos ativos, vivendo seu primeiro grande “evento de liquidez” — aquele momento em que ele de fato colhe financeiramente tudo o que construiu.
Mas, ele não parou por aí. Com a experiência acumulada, Semenzato passa a atuar como investidor e constrói o grupo SMZTO, um fundo de private equity especializado em franquias. Hoje, o grupo reúne marcas que fazem parte do dia a dia de milhões de brasileiros, como Espaçolaser, OdontoCompany, Peça Rara, Terça da Serra, Royal Face, Oakberry, Carflix e outras redes líderes em seus segmentos.
Além disso, ele conta que o portfólio já soma milhares de franquias e um faturamento bilionário em sell-out nas unidades franqueadas, sempre com o foco em resolver dores reais dos consumidores: empregar jovens, transformar sorrisos, facilitar a rotina das pessoas, aumentar a autoestima e qualidade de vida.
A relação do sucesso com propósito e ambição
Ao longo do papo, José Carlos Semenzato bate muito na tecla de que sucesso não é só dinheiro. Para ele, ambição é saudável quando vem acompanhada de propósito, enquanto ganância é algo completamente diferente.
Ele fala sobre a ideia de “moedinhas” ou talentos que todo mundo recebe na vida: habilidades, oportunidades, valores aprendidos na família. A missão de cada pessoa seria multiplicar essas moedas — estudar, trabalhar, se dedicar, aproveitar oportunidades e transformar tudo isso em algo maior, com impacto positivo na vida de outras pessoas.
Por isso, ele sempre reforça que não basta criar um produto ou serviço. É preciso resolver uma dor concreta, entregar algo que faça diferença de verdade e que o cliente reconheça como valioso. Esse olhar explica porque ele valoriza tanto a qualidade do atendimento, a formação de jovens para o mercado de trabalho e a responsabilidade com franqueados.
Um pouco sobre a vida pessoal de José Carlos Semenzato
Apesar de tantos resultados, a vida pessoal de José Carlos Semenzato também teve momentos muito duros. Ele contou sobre o acidente que tirou a vida dos pais em 2004, justamente numa fase em que ele já ganhava bem, tinha condições de lhes proporcionar conforto e havia acabado de construir a tão sonhada casa deles.
Esse episódio o levou a um período de luto intenso e depressão. Então, foi quando ele percebeu, de forma dolorosa, que dinheiro não compra tudo e que existem coisas — como tempo, saúde e vida — que fogem totalmente do nosso controle. Ao mesmo tempo, ele diz que isso também o fez entender que ninguém vem ao mundo só para ganhar: perdas fazem parte do caminho e, também, ensinam.
Hoje, ele fala muito sobre legado. Com três netos e os filhos Bruno e Beatriz à frente da operação da SMZTO, José enxerga o negócio como algo que deve durar muito além da vida dele. Ele acredita em ciclos: compra empresas, investe, ajuda a crescer, e em algum momento vende para investir em outras.
Por fim, se a trajetória de José Carlos Semenzato mostra algo, é que não existe atalho: existe jornada. E, como ele mesmo defende, não é preciso ter bilhões na conta para ser uma pessoa de sucesso. Você pode ser o melhor no seu bairro, na sua cidade, no seu segmento — desde que faça o seu melhor, todos os dias, e esteja disposta a multiplicar as “moedinhas” que recebeu.