Positividade tóxica: tudo bem não estar bem o tempo todo
Postado 16 de julho de 2025 em Comportamento por Ana Beatriz Cardo

Sorrir sempre, agradecer por tudo, manter a vibe lá em cima… parece bonito, né? E pode até ser inspirador em muitos momentos. Mas, quando essa ideia de “pensamento positivo a qualquer custo” vira regra, o efeito pode ser exatamente o oposto do que se espera. A chamada positividade tóxica é justamente isso: a imposição de um otimismo exagerado, mesmo quando tudo o que a gente precisa é sentir, acolher e viver o que está difícil.

Esse tipo de mentalidade pode parecer inofensiva, mas carrega armadilhas emocionais que afetam a saúde mental, os relacionamentos e até a forma como lidamos com nós mesmas. Afinal, quem nunca ouviu um “pensa pelo lado bom” quando estava destruída por dentro?
Então, bora aprender a validar os seus sentimentos sem sentir culpa? Porque, sim, está tudo bem não estar bem o tempo todo.
O que é, afinal, a positividade tóxica?
Positividade tóxica é o excesso de otimismo que invalida emoções consideradas “negativas”, como tristeza, raiva, frustração, medo ou cansaço. Dessa forma, é quando, em vez de acolher o que estamos sentindo, a gente se força a manter um bom humor constante, mesmo que por dentro esteja desmoronando.
Por exemplo, frases como “tudo acontece por uma razão”, “poderia ser pior”, “foca no que você tem de bom” ou “não reclama, tem gente em situação pior” são exemplos clássicos. À primeira vista, parecem bem-intencionadas. Porém, na prática, são atalhos para evitar conversas difíceis, silenciar emoções legítimas e mascarar o que precisa ser sentido de verdade.
Por que a positividade tóxica pode fazer tão mal?
A grande armadilha da positividade tóxica é que ela não permite que a gente viva de forma autêntica. Então, isso tem impacto direto no nosso bem-estar emocional. Quando reprimimos sentimentos para “parecer bem”, acumulamos tensões, inseguranças e frustrações que acabam estourando de outro jeito.
Além disso, esse comportamento pode gerar um sentimento de inadequação. Por exemplo: você está passando por um momento difícil, mas vê todo mundo nas redes sociais sorrindo, agradecendo, meditando às 6 da manhã e fazendo yoga no pôr do sol. Assim, a comparação vira gatilho, e aí vem a culpa: “Por que eu estou me sentindo assim? Será que tem algo de errado comigo?”
Spoiler: não tem. Todo mundo sente. Todo mundo sofre. E fingir que está tudo bem o tempo inteiro só aumenta a sua dor.
O problema está no otimismo ou no exagero dele?
O problema não está no otimismo em si, mas na negação da realidade. Ter uma postura positiva diante da vida é algo saudável e desejável. No entanto, isso precisa vir de um lugar genuíno e não de uma obrigação interna de ser feliz a qualquer custo.
A diferença está na intenção. Uma coisa é tentar ver o lado bom das situações com consciência. Outra é se forçar a sorrir quando tudo o que o corpo e a mente pedem é descanso, acolhimento e um bom choro.
Sendo assim, é importante aprender a equilibrar o pensamento positivo com a validação emocional. Os dois podem – e devem – coexistir.
Como a positividade tóxica aparece no dia a dia?
A positividade tóxica pode se manifestar de várias formas — e muitas vezes, sem que a gente perceba. Por isso, trouxemos aqui abaixo as mais comuns:
- Quando você se sente triste e escuta (ou diz a si mesma): “Você não tem motivo pra se sentir assim”.
- Quando alguém compartilha uma dor, e você responde com um “vai passar, pensa positivo”.
- Quando evita demonstrar fragilidade por medo de parecer fraca ou ingrata.
- Quando você vive uma fase difícil, mas continua postando sorrisos forçados para “manter as aparências”.
Como evitar cair na armadilha da positividade tóxica?
Em primeiro lugar, se permita sentir. Afinal, emoções não são inimigas — são bússolas. Se você está triste, é porque algo não está bem. Com raiva, talvez os seus limites tenham sido ultrapassados. Se sente medo, é porque há algo que precisa ser cuidado. Ignorar esses sinais só faz com que o problema se acumule.
Além disso, vale ficar atenta às suas próprias palavras — tanto com você quanto com os outros. Então, em vez de dizer “não chora”, que tal um “estou aqui com você”? No lugar de “você precisa ser forte”, que tal um “você não está sozinha”?
Como lidar com pessoas que praticam positividade tóxica?
Às vezes, quem pratica a positividade tóxica não tem a menor intenção de causar mal. Pelo contrário — pode estar tentando ajudar. Mas, o problema é que esse tipo de ajuda invalida os sentimentos e pode deixar a pessoa ainda mais sozinha.
Por isso, se você se sente constantemente pressionada a “pensar positivo” mesmo quando precisa de apoio, é válido conversar. Explique como se sente e diga o que realmente precisa: escuta, acolhimento, ou apenas um espaço para desabafar.
Além disso, se não se sentir confortável em se abrir, tudo bem também. O mais importante é saber que você tem direito a sentir e expressar o que quiser — mesmo que o mundo diga o contrário.
Qual o impacto da positividade tóxica nas redes sociais?
As redes sociais são, sem dúvida, um dos maiores combustíveis da positividade tóxica. Isso porque estamos cercadas por frases motivacionais, dancinhas felizes, posts de gratidão e filtros cor-de-rosa. Porém, a verdade é que isso nem sempre reflete a vida real.
Muita gente romantiza a própria rotina, esconde as suas dores e mostra apenas recortes “felizes” da vida. E, ao consumir esse conteúdo diariamente, acabamos acreditando que somos as únicas a não estarmos bem.
É por isso que falar sobre vulnerabilidade se tornou tão necessário. Mostrar as imperfeições, os dias nublados e os sentimentos reais é um jeito de humanizar a internet — e de lembrar que ninguém precisa estar bem o tempo todo.
Com equilibrar positividade com autenticidade?
Não se trata de abandonar o pensamento positivo, mas de escolher quando e como usá-lo. Dessa forma, em vez de ver a positividade como regra, veja como uma possibilidade. Você pode, sim, enxergar o lado bom das coisas — mas também pode se permitir parar, chorar, descansar e pedir ajuda.
Por exemplo, você pode dizer a você mesma “vai passar”, mas também pode admitir “está doendo agora”. Pode ter fé de que tudo vai melhorar, mas sem se cobrar estar 100% bem enquanto isso não acontece.
Afinal, ser positiva de verdade é ser honesta com o que sente. E isso inclui dias bons e dias ruins.
Como dar espaço para os nossos próprios sentimentos?
Uma ótima dica é começar com pequenos gestos de acolhimento. Em vez de se julgar por estar triste, pergunte: “O que estou sentindo agora?” ou “O que esse sentimento está tentando me dizer?”
Além disso, escrever sobre os seus sentimentos, conversar com alguém de confiança ou até tirar um tempinho só para você também pode ajudar. O essencial é sair do modo automático e criar um espaço seguro para ser quem você é — com tudo o que sente.
Se necessário, buscar apoio psicológico pode fazer toda a diferença. Afinal, ter um profissional ao lado ajuda a entender melhor o que está se passando e a lidar com os sentimentos de forma mais saudável.
No fim das contas, o que a gente precisa lembrar é simples: sentir é humano. A dor faz parte da jornada, assim como o riso, a leveza e a alegria. Então, o problema não é estar mal — é fingir que está tudo bem quando não está.
Portanto, da próxima vez que alguém (ou sua própria voz interna) tentar te calar com uma frase motivacional pronta, respira fundo. E se permita viver o que precisa ser vivido sem positividade tóxica. Com verdade, gentileza e você no centro de tudo.
Foto de Capa: Shaurya Sagar na Unsplash/Reprodução.