Romantizar a vida: por que idealizamos tanto o que não vivemos?

Romantizar a vida

Romantizar a vida virou uma espécie de mantra nas redes sociais. Frases como “curta o pôr do sol com uma taça de vinho” ou “vista a sua melhor roupa só para ficar em casa” se tornaram comuns, e muita gente adotou o hábito de transformar situações simples em momentos especiais.

Foto: Artem Kovalev na Unsplash/Reprodução.

A ideia parece linda — e, de fato, pode ser uma forma muito gostosa de viver. Mas, ao mesmo tempo, existe um outro lado dessa história: a idealização de realidades que nunca aconteceram, de versões da vida que talvez nem existam. Afinal, por que idealizamos tanto o que não vivemos?

Essa romantização constante pode ser vista como uma tentativa de fugir da realidade, projetando expectativas e sentimentos em experiências que nunca aconteceram — e que, muitas vezes, nem vão acontecer.

Por que romantizar a vida se tornou tão comum?

Vivemos em um tempo acelerado, onde o nosso dia a dia, muitas vezes, é engolido por obrigações, cobranças e metas. Dessa forma, romantizar a vida surge quase como um antídoto. É uma maneira de buscar beleza no caos, criar pequenas pausas em meio à rotina e tornar o presente mais leve. E sim, isso pode ser maravilhoso.

Porém, junto com esse movimento, surgiu também a cultura da comparação. As redes sociais nos bombardeiam com imagens de vidas perfeitas, relacionamentos de cinema, viagens de tirar o fôlego e rotinas que parecem saídas de uma revista. Assim, o problema é que, muitas vezes, passamos a idealizar esses cenários e desejar aquilo que nunca vivemos — ou que nem sabemos se queremos de verdade.

É aí que o ato de romantizar a vida deixa de ser um cuidado emocional e se torna uma prisão: idealizamos o que não temos, desprezamos o que temos e alimentamos um ciclo infinito de frustração.

Qual é o limite entre romantizar a vida e fugir da realidade?

Romantizar a vida, quando feito com consciência, é um exercício de presença. É prestar atenção aos detalhes, transformar o ordinário em especial e viver com mais delicadeza. No entanto, quando esse hábito vira uma fuga constante da realidade, o encanto se perde.

Por exemplo, sentir saudade de uma viagem que nunca aconteceu, se apaixonar por uma ideia de pessoa que você nem conhece direito ou sonhar com uma versão da sua vida que ignora completamente quem você é de verdade — tudo isso pode indicar que o ato de romantizar a vida virou uma forma de escapismo. Então, com o tempo, pode te causar ansiedade, insatisfação e sensação de vazio.

Sendo assim, é importante se perguntar: estou me conectando mais com o que imagino ou com o que vivo? O quanto da minha vida é realmente vivida — e o quanto é apenas idealizada?

Por que idealizamos tanto o que não vivemos?

Existe um fator psicológico por trás disso: o cérebro humano tende a preencher lacunas com imagens positivas. Dessa forma, quando pensamos em algo que nunca vivemos, é comum fantasiarmos apenas os pontos bons — sem incluir as dificuldades, frustrações e contratempos que fazem parte da vida real.

Além disso, idealizar o que não vivemos pode ser uma tentativa de dar sentido ao que está faltando. Aquela vida que parece mais leve, aquele relacionamento que parece mais romântico, aquele trabalho que parece mais inspirador… tudo isso se torna uma válvula de escape para o presente.

Mas, idealizar constantemente o que nunca aconteceu é como correr atrás de uma miragem. Por mais que pareça real à distância, ao se aproximar, ela sempre desaparece.

Romantizar a vida pode ser saudável?

Pode sim, e muito. Quando usamos esse hábito de forma equilibrada, ele vira um ritual de autocuidado. Afinal, coisas simples como preparar o café da manhã com calma, acender uma vela perfumada para relaxar ou escrever no diário ao som de uma música tranquila são formas de romantizar a vida que nos conectam com o presente e aumentam o bem-estar.

Esses pequenos gestos nos ajudam a enxergar beleza onde antes só víamos rotina. E, principalmente, a entender que a vida não precisa ser grandiosa para ser boa — ela pode e deve ser gostosa também nos “pequenos detalhes”.

Por isso, romantizar a vida pode ser uma prática de gratidão, um respiro consciente e uma forma de criar lembranças afetivas com o que temos hoje, sem precisar idealizar o que não aconteceu.

Como encontrar equilíbrio entre sonho e realidade?

É mais simples do que parece:

Pratique a presença

Em primeiro lugar, estar presente no momento é a melhor forma de se conectar com a realidade. Então, observe os detalhes, respire fundo e sinta o seu corpo. Isso diminui a necessidade de idealização.

Questione as suas expectativas

Aquilo que você deseja é mesmo o que te faria feliz — ou é só mais uma fantasia alimentada pelas redes sociais?

Aceite as imperfeições

A vida real é feita de dias bons e ruins. Portanto, não precisa ser perfeita para ser significativa.

Crie momentos especiais com o que você já tem

Em vez de esperar uma vida de filme, transforme o seu cenário real em algo que te traga prazer e acolhimento.

Fale sobre isso

Compartilhar as suas angústias com alguém de confiança pode ajudar a reorganizar pensamentos e perceber que você não está sozinha.

O que perdemos quando idealizamos demais a nossa vida?

Por mais romântico que pareça, idealizar demais nos impede de ver o valor do que está bem na nossa frente. Afinal, a gente deixa de aproveitar pessoas incríveis porque está esperando por um “alguém ideal”. Deixamos de celebrar conquistas reais porque estamos sonhando com algo maior. Esquecemos de viver o agora porque estamos presas no “e se…”.

Além disso, romantizar a vida de forma excessiva pode alimentar sentimentos de frustração e inadequação, nos fazendo acreditar que a vida de todo mundo é mais interessante do que a nossa. Assim, isso mina a nossa autoestima, prejudica relações e pode até desencadear quadros de ansiedade ou depressão.

Portanto, mais do que buscar uma vida idealizada, vale aprender a enxergar o que já temos com olhos mais leves e gentis.

Como cultivar uma relação mais real com a sua própria vida?

A resposta está no equilíbrio. É possível, sim, sonhar com um futuro melhor, ter metas, se inspirar em outras pessoas e criar uma rotina mais gostosa. Mas, isso não pode vir à custa de desprezar quem você é hoje ou o que você tem agora.

Então, romantizar a vida pode e deve ser uma escolha consciente: aquela playlist que muda o humor, aquele jantar caprichado feito só para você, aquele tempo de qualidade com quem você ama. Tudo isso é real, é presente, é seu.

Por fim, pense que o que faz a vida ser especial não são os cenários perfeitos, mas os sentimentos verdadeiros. Não há nada de errado em querer uma vida bonita — só não deixe que ela exista só na sua cabeça.

Dessa forma, romantizar a vida pode ser uma ferramenta poderosa de cuidado emocional — desde que usada com sabedoria. Idealizar momentos, criar beleza na rotina e transformar o ordinário em especial são gestos que podem deixar o dia mais leve e cheio de sentido. Mas, quando essa romantização vira fuga ou comparação constante, o efeito é o oposto: frustração, ansiedade e desconexão.

Portanto, da próxima vez que se pegar sonhando com um cenário ideal, pare e respire. Olhe ao redor. Talvez o que você tanto procura já esteja aí — só esperando ser vivido de verdade.

Foto de Capa: Pietro Tebaldi na Unsplash/Reprodução.

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